quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (Tropa de Elite = Rio de Janeiro)

Para quem assistiu Tropa de Elite (1 e 2) é difícil, para não dizer impossível, não sentir certo incômodo com o que está acontecendo no Rio. Existe uma dúvida imensa no ar: será que “qualquer semelhança com a realidade é [mesmo] mera coincidência? Vejamos: as UPP's são instaladas, os traficantes se revoltam, a mídia pressiona, a população apoia a barbárie e o governo adota medidas duras para solucionar o problema e muitos morrem! Ninguém “paga” o preço pelas mortes e fica por isso mesmo.

Desde que os “ataques” começaram, o hit do momento ecoa em forma de pergunta sobre porque não lançam uma bomba nos morros e acaba logo com tudo. E então, o “pancadão” rapidamente chega nos “Direitos Humanos” que de mocinho passa a ser vilão da sociedade, irônico não? Confesso que enquanto assistia o filme Tropa de Elite 2 desejei ver aquele bando de bandido morto e sei que muitos compartilharam do meu anseio, ainda mais ciente da justiça lenta e ineficaz que o Brasil possui. Contudo, de uma forma surpreende e usando de uma linguagem clara o filme revela o círculo de interesses por trás de cada ação: o traficante negocia com a polícia, que negocia com a mídia e os governantes que, por sua vez, agem conforme o acordado para se (re)elegerem e continuarem dominando a situação. Está armada a rede perfeita da corrupção onde um apoia o outro e não há ninguém para denunciar. Intrigante não?

Mas e aí? A culpa é de quem? A culpa é de quem? Dos pobres, mal-educados, preguiçosos, promíscuos e alcoólatras que escolheram o caminho fácil? Misture miséria, drogas, esgoto, desemprego, falta de políticas públicas e talvez consiga visualizar o estado caótico da favela. Em meio a condições subumanas eles fazem muito em sobreviver. A questão não é ser a favor daquilo que acontece no morro e que causa sofrimento a toda sociedade, mas é ser contra a falta de humanidade. Animais é que se matam para disputar um território. Seres humanos são racionais ora!? Será que não existe outra maneira para resolver tamanho problema?! Há quanto tempo o tráfico domina as favelas e onde o Estado estava? Enquanto eximia de suas obrigações, o curral eleitoral se virava como podia em meio ao caos que viviam e ainda (sobre)vivem. Agindo como agiu será mesmo possível acreditar que agora o Estado está interessado em oferecer a tais comunidades o que nunca quis fazer? A resposta óbvia é não!

Essa “sede” insana por “justiça”, a qual todos em algum instante acabamos abraçando, provocou derramamento de sangue, porém não trouxe a solução! Até as olimpíadas a preocupação será a “segurança” artificial das pessoas o que pode ser negociado como tudo na vida, não é mesmo? Na real, a favela não é quem sustenta o tráfico e sim o lugar em que vive a mão de obra barata dele. São vítimas como todos nós. Vítimas de um país que durante três meses e apenas três meses, que antecedem a eleição, é amado por aqueles que o dirigem. Mas, não se esqueça: qualquer semelhança é mera coincidência.

Para pensar:
1.http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4811494-EI6578,00-Freixo+seguranca+publica+reforca+criminalizacao+da+pobreza.html
2.http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/marcelo-freixo-nao-havera-vencedores.html
http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2010/11/481527.shtml
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/favela-cercada-usuarios-na-praia
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-capitao-nascimento-e-o-advogado-john-adams
http://www.cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/rio-combater-o-trafico-sem-criminalizar-a-pobreza
http://www.uff.br/ichf/publicacoes/revista-psi-artigos/2004-1-Cap2.pdf
http://www.rodrigovianna.com.br/outras-palavras/rj-a-estrutura-do-crime-esta-sendo-reorganizada-milicias-terao-mais-espaco.html

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