No segundo turno da última eleição (31/10/2010) fui convocada para “trabalhar”! (que nobre missão não!??) Na verdade, ao invés de “PEDIR PRA SAIR”, como a maioria dos convocados faz, eu literalmente “PEDI PARA ENTRAR”! Isso porque, algumas semanas antes do segundo turno, durante uma conversa no intervalo para o almoço o assunto chegou aos bastidores do trabalho da eleição e então pensei: “porque não experimentar estar também do 'lado de lá' da mesa do mesário?”. Foi quando decidi me cadastrar como mesário voluntário. Poucos dias depois, portando meu título (que é o único documento que não tenho a numeração decorada, se é que alguém tem) entrei no site do TSE e me cadastrei. Pronto! Agora era só esperar para ver se a isca seria fisgada.... e para minha surpresa ela foi (até parece né!?!)!!! Não demorou muito e uma moça do TRE ligou avisando que tinha ocorrido um acidente com um mesário e que teriam que substitui-lo por alguém e que meus dados tinham sido analisados, bláblábláblábláblá e então me escolheram (ohhhhhhhh)!!! Tá, tudo bem, eu aceito, nem precisava ficar tentando me convencer. É claro que fiz um charme, disse que já tinha até esquecido e que estava planejando viajar (já que coincidentemente as eleições o feriado ia ser prolongadíssimo), mas que podia confirmar minha presença! Agora estava consumado de verdade!!! Além de um vale-refeição de R$ 20,00 também iria ganhar dois dias de folga para usar quando quisesse (ebaaaaa \o/!!!!!!!!). Diversões a parte, naquele momento as obrigações é que imperavam e assim para cumprir os requisitos legais fui até minha zona e assinei o livro de mesários, peguei minha cartinha de intimação e um bombom que me deram em agradecimento por trabalhar nas eleições. =)) Quando contei para minha mãe que ia trabalhar nas eleições e que tinha me cadastrado voluntariamente ela logo veio argumentando que eu só devia ter ficado louca uma vez que todos os que são convocados desejam ardentemente se ver livre desse fardo. Mas, o que ela não entendia é que eu estava tentando enxergar além. Então, aguardei ansiosamente pelo tão esperado dia, onde além de exercer minha cidadania também seria “partícipe” desse sistema atual de eleger alguém. Assim, poderia acompanhar passo a passo as eleições, conhecer não os candidatos, mas os eleitores, entender como funciona uma pequena parte do sistema na prática.
No dia esperado, a chuva é quem se fez presente desde o despontar da manhã. Mesmo assim, acordei disposta e após todos os ritos de praxe da “arrumação feminina” me dirigi ao meu novo local de trabalho. Estacionei o carro no interior do pátio da escola e procurei a seção a qual estava designada, porém para minha surpresa e total desgosto a presidente me disse que não havia necessidade de mais um mesário , pois todos daquela seção estavam presentes. Uhhhhhhhh. É a vontade foi de dar um grito bem alto e dizer: - “ Mas não é possível!!!!! isso é um absurdo!! Eu deixo toda a minha vida e separo um dia inteiro bem no meio de um feriadão para trabalhar nas eleições e agora vocês vem me dizer que não precisam de mim!!!!! Arghhhhh!”. Porém minha lucidez falou mais alto. Eu simplesmente mostrei a carta da convocação e liguei para o telefone que estava nessa. Enquanto os toques chamando por alguém na minha zona aconteciam eu ficava pensando: “Será mesmo que não vai ter ninguém trabalhando lá logo no dia das eleições?!!??! Ah não, mas aí é um absurdo mesmo, mal comecei o dia e já fui percebendo que o que reina é a desorgan.....” e o rapaz de interrompeu com um “alô”, cheio de simpatia por sinal. Aí expliquei a situação e ele disse que sendo assim eu poderia ir embora e que a presidente relatasse isso na Ata. Aí passei o celular para ela para que ela ouvisse a explicação e fizesse tudo direitinho para garantir que além de não trabalhar, não conhecer parte do sistema das eleições, não ganhar o ticket e muito menos os dois dias de folga, TAMBÉM NÃO GANHASSE UMA ADVERTÊNCIA ENORME POR NÃO TER ATENDIDO A CONVOCAÇÃO!!! NESSE INSTANTE ME CONCENTREI NA MINHA CAMA, ela que presenciara minha angústia pela espera agora presenciaria minha decepcionante volta a ela. (=/) Quando já me despedia, uma outra mesária percebeu o erro!!! Na verdade, uma das mesárias daquela seção tinha sido designada para ser presidente em outra seção. Logo, minha presença era indispensável!!!!! Iupiiiii! Mais que depressa, COLOQUEI ORGULHOSAMENTE MEU CRACHÁ, ASSINEI A LISTA DOS “TRABALHADORES” E ASSUMI MINHA POSIÇÃO (DO LADO DE LÁ DA MESA)!!
Ás oito horas os portões foram abertos e aguardei ansiosamente por cada um dos eleitores que até então estavam representados apenas pelos nomes no livro dos eleitores daquela seção. O problema é que tudo parecia conspirar contra mim!!!!! Eu super disposta a trabalhar, a ajudar, a estudar o fenômeno de pertinho, porém os principais atores insistiam em não aparecer. Logo agora que a peça seria apresentada a mim!!!! O feriado prolongado, a chuva incessante e a idade dos eleitores tudo conspirava para que a peça não se concretizasse. Assim, cada um que marcava presença eu recebia com um caloroso “Bom dia!” e a intimidade criada após conhecer o nome era quase instantânea (- “Como vai dona Maria? Que bom que a senhora veio votar, agora senhora aguarda só um minutinho que a presidente vai liberar a urna e a senhora já vai poder votar!”)! E entre um e outro, conferia a urna e calculava a porcentagem entre o total de eleitores e os presentes. Minha torcida não era para um candidato específico, mas era para o eleitor, para que ele concretizasse a democracia. Então, pouco a pouco fui observando o que ali esperava encontrar. E o que encontrei não foi muito agradável. São erros banais, mas que com simples atitudes poderiam ser facilmente resolvidos, acontece que o medo de agir por si (ainda mais para quem é marinheiro de primeira viagem) quando se trata de eleições fala mais alto já que a nós nada é lícito. Voltando as observações, posso começar dizendo que o espaço para a assinatura, que por sua vez é a única garantia de identidade do eleitor, é deveras pequeno para aqueles que a coordenação motora fina está prestes a fugir de vez e que a visão esvai como fumaça, porém sempre fiel ao direito arduamente conquistado. Assim, eles aborrecem porque custam a assinar, a enxergar, mas muito se engradecem quando é dita a frase: “ Pode votar seu....!” Além disso, a todo instante éramos interrompidos com pessoas com a identidade procurando saber se ali era o lugar de sua votação. Com a não exigência do título, muitos foram votar, mas nem sabiam qual a seção e aí empreenderam uma busca até encontrar. Sem contar que para que a liberação da urna aconteça é necessário o número do título e quando o cidadão não o levava o jeito era ditar para a presidente o que enrolava ainda mais a votação. A sorte é que, além de tudo que já citei, por ser apenas dois cargos a votação foi bastante tranquila. Agora o que muito me indignou foi 1º) a falta do número e nome dos candidatos aos cargos pois mesmo sendo apenas dois, alguns eleitores se esqueciam no momento de votar qual o número e aí acabavam anulando o voto sem querer; e 2º) a falta de esclarecimento dos eleitores em qual o cargo seria o primeiro a ser votado e isso também levou muitos a anularem o voto por um erro banal! E olha que não vi isso acontecer só com idosos, mas também com jovens e adultos. Isso revelou que NA VERDADE MUITOS VOTAM, SEM PERCEBER, EM QUEM NÃO QUEREM! Foi muito triste vê-los saindo chateados por um errinho de nada que colocou toda sua dedicação por água abaixo. Todos os lentos e calmos passos, o despertar apurado, o arranjo da roupa, a ordenação dos documentos, as ruas e a chuva transpostas, todos os limites vencidos para a execução da democracia são em um instante de bobeira completamente desperdiçados. Durante os momentos que seguiram da eleição, muitos compareceram para justificar, apenas um menor de 18 anos fez jus ao seu título de cidadão, porém muitos acima de 65 anos compareceram e reconheceram de uma forma ou de outra a importância de uma eleição. Após o fechamento dos portões, a urna foi encerrada e de 372 eleitores apenas 263 compareceram. Então, assinamos os extratos da urna já com os votos contabilizados e nos despedimos. Na verdade, acredito que foi um bom número apesar dos pesares. Fiquei satisfeita por todos os que votaram, ao mesmo tempo me entristeci porque para muito de nada adiantou o esforço para votar. E assim, percebi que A DEMOCRACIA ESTÁ PARA TODOS, MAS POR DIVERSAS CIRCUNSTÂNCIAS NEM TODOS PODEM EXERCÊ-LA.
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